Autocuidado vai além da skincare: um papo de psicóloga
- SPA Express

- 14 de out.
- 2 min de leitura
Setembro é um mês em que o debate sobre saúde mental ganha mais visibilidade. Mas precisamos lembrar: cuidar da vida não se resume a um mês no calendário. É um exercício cotidiano e, nesse exercício, o autocuidado ocupa um lugar fundamental.
Do ponto de vista da psicanálise, que para mim é ao mesmo tempo uma abordagem de prática clínica, uma filosofia de vida e um caminho para a cura interna e o bem-estar duradouro, o autocuidado nada mais é do que ocupar-se de si.

Vivemos em um mundo que nos impulsiona para fora: consumo, comparações, produtividade e múltiplos papéis. As mulheres, em especial, sejam mães, profissionais ou empreendedoras, carregam uma carga emocional e prática que muitas vezes as faz se perder de si. Nesse contexto, autocuidado é um convite ao olhar interno: sustentar pausas, criar espaços de reconexão e retomar contato consigo mesma. Um movimento vital, que vai muito além de práticas superficiais de bem-estar.
Por exemplo: rotinas de skincare ao fim de um dia exaustivo, sozinha ou compartilhada com as filhas, podem ser mais do que estética; são vínculo e memória afetiva. Uma massagem relaxante no meio da rotina, liberando tensões e permitindo respirar, pode ser combustível para continuar existindo como sujeito e não apenas funcionando no automático.

Associar o autocuidado a um processo psicoterapêutico é um caminho poderoso para curar traumas, ressignificar experiências e transformar a forma como nos relacionamos com os outros e conosco. Na clínica, recebo constantemente mulheres que vivem esse dilema: o conflito entre maternidade e carreira, a busca por corresponder às expectativas externas e, ao mesmo tempo, o desejo de não se perder de si. Muitas chegam em meio ao turbilhão da vida até perceberem que também precisam de cuidado.
A psicoterapia, nesse sentido, funciona como uma pausa potente: um espaço de elaboração e escuta que permite tomar decisões que reverberam além do setting analítico. Esse processo ajuda cada uma a se aproximar do que lhe faz bem e a se fortalecer para a vida. São gestos terapêuticos que reduzem a ansiedade, ampliam a criatividade e desenvolvem autoconfiança e autoconsciência.

Vale lembrar: o sujeito só pode se constituir a partir de vínculos. Para estar em relação com o outro, seja com filhos, parceiros, colegas ou no trabalho, é preciso primeiro sustentar um laço consigo mesma. Quando ignoramos nossos limites, necessidades e desejos, nos esvaziamos, adoecemos e nos desconectamos.
O autocuidado, portanto, é um gesto simbólico: é dizer “eu importo, o que eu sinto importa”. É reconhecer vulnerabilidades, legitimar o descanso, acolher o silêncio e permitir-se prazer. É equilibrar movimento e pausa, porque são eles, juntos, que nos mantêm inteiras e disponíveis para a vida.
Após este Setembro Amarelo, fica a reflexão: autocuidado é vínculo com a vida. É também nele que encontramos condições de nos reinventar e seguir adiante, sem nos perder no caminho.
Mônica Luna – Psicóloga e Psicanalista | Psicoterapeuta e Consultora | Psicóloga da rede SPA Express | CRP 13/5984





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